Na última semana, o dólar registrou um movimento forte de queda e se encontra em um patamar abaixo de R$ 5. Desde segunda-feira (10), a moeda americana já caiu mais de 2%; já em um mês, a queda acumulada chega aos 6,69%.
Essa mudança no preço do câmbio pode impactar um produto que vem pesando no bolso dos brasileiros: a gasolina. O combustível está entre os 10 produtos que viram os preços dispararem no mês passado, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A alta registrada foi de 8,33%, e já era esperada aceleração na inflação da gasolina. Isso porque, no início de março, o governo anunciou a reoneração parcial dos impostos federais incidentes sobre a gasolina e o etanol.
Agora, o mercado tenta entender se essa queda na moeda americana será suficiente para compensar a alta nos impostos.
“É bem verdade que o dólar, com o real mais valorizado, diminui o custo de importação da gasolina pela Petrobras. Isso, teoricamente, poderia promover uma redução do preço. A questão é saber se o dólar, no nível que está agora, é o suficiente para promover uma redução da gasolina de forma a compensar o aumento do imposto”, afirma Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
Vale lembrar que a variação cambial é um dos fatores que a Petrobras (PETR3;PETR4) leva em conta na hora de determinar o preço dos combustíveis em suas distribuidoras. Basicamente, o dólar mais alto faz com que os custos de importação fiquem mais elevados. Logo, a empresa precisa subir os preços.
Vitor Alves Junckes, gestor de multimercados da Somma Investimentos, também concorda que o dólar mais baixo abre espaço para cortes. No entanto, ele destaca que é preciso avaliar um período maior.
“Considerando o mês de abril até agora, o real teria que se apreciar um pouco mais para compensar a alta do petróleo recente. Também é importante lembrar que o impacto do preço do petróleo e do dólar no valor final da gasolina para o consumidor depende da divulgação do preço pela Petrobras, o que às vezes pode gerar uma demora no impacto”, afirma.
Fator governo
Outro fator que também tem potencial de interferir nos preços dos combustíveis nos próximos meses é o governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já falou mais de uma vez que a política de preços da Petrobras deveria ser revista. Nesse caso, a relação dólar-gasolina vai ser amenizada ou até extinta.
A diretoria da estatal ainda está sendo montada e, dependendo da sua formação, o governo poderá interferir com maior intensidade na variação dos preços na tentativa de puxar a inflação para baixo.
“A direção do preço da gasolina tem que acompanhar a direção do preço do dólar. Se o dólar cai, a gasolina deve cair; se o dólar sobe, a gasolina tem que subir por uma questão de custo de importação da Petrobras. Mas essa dinâmica passa ser comprometida, uma vez que a gente tem um governo intervencionista usando medidas para fiscais para tentar combater a inflação”, afirma Ricardo.
Gasolina avança 0,18%
O preço médio do litro da gasolina nos postos do país subiu na última semana, mostra pesquisa feita pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) entre os dias 9 e 15 de abril.
Segundo o levantamento, o valor do litro do combustível passou de, em média, R$ 5,50 para R$ 5,51, o que representa alta de 0,18%. É a segunda semana seguida que a ANP registra um avanço no preço da gasolina.
Ainda de acordo com a agência, o preço mais alto identificado pela ANP foi de R$ 7,19 na mesma semana.